sexta-feira, setembro 19, 2025
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Lucro de planos de saúde bate recorde enquanto insatisfação aumenta

Ao passo que operadoras ampliam ganhos, consumidores enfrentam reajustes, cancelamentos e disputas judiciais

O setor de saúde suplementar vive um momento de expansão sem precedentes. Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos de saúde acumularam lucro líquido de R$ 12,9 bilhões no primeiro semestre de 2025 — alta de 131,9% em relação ao mesmo período do ano passado. O montante já ultrapassa o resultado de todo o ano de 2024, quando o segmento havia registrado R$ 10,2 bilhões de ganhos. O desempenho, que representa 6,8% de toda a receita do setor, chama atenção porque acontece em paralelo a reajustes elevados nas mensalidades cobradas dos beneficiários.

As operadoras de grande porte responderam por quase três quartos do resultado, com R$ 9,7 bilhões em lucro. Mas o destaque percentual ficou com as empresas de médio porte, que viram seus ganhos saltarem 622%, alcançando R$ 2 bilhões. De acordo com a ANS, três fatores explicam o resultado: crescimento do resultado operacional, receitas financeiras impulsionadas por juros altos e queda da sinistralidade, que atingiu 81,1%, o menor índice desde 2018. O cenário, no entanto, levanta questionamentos sobre a qualidade do serviço, diante de denúncias de negativas abusivas de cobertura.

Para o advogado Thayan Fernando Ferreira, especialista em direito da saúde, os números refletem tanto a força econômica das operadoras quanto a fragilidade do consumidor diante dos reajustes. Ele alerta que a lucratividade bilionária não pode ser dissociada das dificuldades enfrentadas pelos clientes. “A sustentabilidade das empresas é assegurada por regras que permitem aumentos acima da inflação das despesas assistenciais, o que pressiona os usuários. O problema é quando isso se traduz em práticas abusivas e restrição de direitos”, observa.

Os processos na Justiça confirmam a insatisfação: dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indicam aumento de 6,8% nas ações contra planos de saúde em comparação ao ano passado. As reclamações mais comuns envolvem reajustes considerados abusivos, cancelamentos unilaterais, negativas de cobertura, exclusão de dependentes e problemas com reembolsos. 

Diante desse quadro, especialistas defendem maior rigor regulatório e punições mais severas às empresas que insistem em descumprir regras. “Quando até decisões judiciais são ignoradas, é sinal de que o modelo atual não tem sido suficiente para proteger os consumidores”, afirma Ferreira. Com mais de 50 milhões de brasileiros atendidos por planos de saúde, o desafio é encontrar equilíbrio entre a sustentabilidade financeira do setor e a garantia de acesso com qualidade. A expectativa é de que a discussão sobre regulação se intensifique nos próximos meses, à medida que a distância entre os lucros das operadoras e os direitos dos usuários se torna cada vez mais evidente.

Foto: Freepik