sexta-feira, maio 9, 2025
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Traços que se transformaram em afeto

Entre memórias, sonhos e esperanças, a capital do país completa 65 anos ouvindo as vozes de quem a constrói todos os dias

Brasília chegou aos 65 anos. A capital sonhada em meio ao cerrado floresceu como símbolo da modernidade, da integração nacional e da esperança de um país em construção. Idealizada pelo então presidente Juscelino Kubitschek, desenhada por Lúcio Costa e embelezada pelas curvas de Oscar Niemeyer, a cidade nasceu para representar o futuro. E embora seus traços arquitetônicos ainda impressionem o mundo, foi o tempo, com suas transformações, que deu alma ao projeto: o povo.

Entre concreto e candangos, a cidade tornou-se viva. E pulsa todos os dias graças às histórias de quem constrói, habita e reinventa esse território singular — onde política e cotidiano se misturam, e onde passado e futuro andam lado a lado. Brasília hoje é feita de muitas vozes: de quem chegou, de quem nasceu, de quem resistiu e de quem acredita que a capital pode ser melhor para todos.

O gerontólogo e ator Eloy Barbosa, morador da cidade desde a década de 1970, relembra com carinho os primeiros anos em Brasília. “A cidade era bucólica, humana, harmônica, vivíamos constantemente nos reunindo. Mas com o passar do tempo fomos sofrendo com o distanciamento das pessoas e isso está se refletindo na cidade, que está apressada, descuidada e com convivência precária”, observa. Apesar disso, ele reconhece que ainda há um potencial único no convívio e no cenário urbano que Brasília oferece: “É uma cidade que precisa voltar a se reconhecer em sua gente.”

Para a estudante Elisa, Brasília representa origem, memória e esperança. “É a cidade onde nasci, onde tenho construído memórias com minha família e estabeleci importantes amizades, é onde criei minhas raízes”, conta. Com olhar voltado para o futuro, ela sonha com uma cidade que ofereça mais oportunidades aos jovens. “Espero que haja mais oportunidades de crescimento para os estudantes, como escolas públicas com ensino de qualidade, intercâmbios culturais e educacionais e programas que ajudem o estudante no início de sua carreira.” Determinada, Elisa projeta seu futuro na própria capital: “Quando eu me formar na área que almejo, pretendo construir minha carreira aqui em Brasília e também buscarei ser uma boa cidadã. No exato momento, o que está ao meu alcance é buscar ser uma aluna dedicada na escola e cumprir minhas responsabilidades.”

Primeiro governador nascido em Brasília, Ibaneis Rocha relembra com emoção sua conexão com a cidade. “Brasília é não só minha terra natal, é toda uma reunião de memórias afetivas que me ensinaram a valorizar cada centímetro do mais querido quadradinho do Brasil.” Ele destaca que sua trajetória política surgiu do desejo de retribuir à cidade tudo o que recebeu: “Decidi ingressar na carreira política justamente para trabalhar pelo povo da cidade que tudo me deu e consolidou o meu caráter. A grande escola que me levou ao caminho da política e de servir à população do Distrito Federal foi a advocacia. Nela aprendi que o advogado deve ter coragem, e o governante também. Porque sem coragem será incapaz de fazer justiça. E sem justiça não existe sociedade civilizada.”

A vice-governadora do DF, Celina Leão compartilha um relato pessoal sobre suas origens e motivações. “Vivi muitos anos entre Brasília e Goiânia, mas foi na capital do nosso Brasil que encontrei minhas raízes mais profundas e onde decidi ficar”, afirma. Desde jovem envolvida com a vida pública, Celina iniciou sua atuação política mobilizando outros jovens. “Foi nesse momento que fui acolhida pelo saudoso governador Joaquim Roriz, uma grande referência para mim. […] Permanecer aqui foi uma decisão natural, assim como foi ingressar na vida pública. Acredito que, quando recebemos um dom de Deus, temos o dever de colocá-lo a serviço do outro e eu sempre soube que meu propósito era cuidar de pessoas.” Para ela, o futuro da cidade está ligado ao compromisso com um desenvolvimento sustentável: “Nosso compromisso é promover um desenvolvimento econômico e social sustentável, que prepare o DF para o futuro e ofereça qualidade de vida para esta e para as próximas gerações.”

O deputado distrital Ricardo Vale destaca o simbolismo da data e a responsabilidade dos representantes públicos com o futuro da capital. “Os 65 anos de Brasília simbolizam um importante marco na história da nossa capital e na luta por representatividade”, afirma. Para ele, o momento é propício para refletir sobre os desafios ainda existentes: “Devemos priorizar iniciativas que gerem emprego e renda, além de incentivar a sustentabilidade.” Ricardo reforça ainda a importância da escuta ativa da sociedade: “A participação da sociedade civil é essencial para que as vozes da população sejam ouvidas e suas necessidades atendidas.”

Aos 65 anos, Brasília é, ao mesmo tempo, monumento histórico e organismo vivo. É fruto de um projeto ousado, mas também da coragem e dedicação de milhares de pessoas que escolheram a cidade como lar. A celebração de mais um aniversário da capital é, acima de tudo, uma oportunidade de reconhecer as conquistas e os desafios de quem continua, dia após dia, fazendo Brasília existir e resistir.

Foto: Elza Fiúza/Arquivo/Agência Brasília