sexta-feira, junho 13, 2025
Desta semanaSaúde

Crescem transtornos de ansiedade entre jovens

Número de atendimentos de adolescente com algum transtorno mental chegou a 16,9 mil no DF

A saúde mental de crianças e adolescentes do Distrito Federal tem gerado preocupação crescente entre profissionais de saúde e famílias. Relatos como o do técnico em logística Antônio Filho evidenciam a gravidade da situação. Ele levou o filho ao hospital por conta de um acidente durante uma partida de futebol e, ao chegar, presenciou adolescentes em sofrimento psíquico. “Quando cheguei ao hospital tinha por volta de quatro adolescentes, todos na faixa de idade do meu filho – 15, 16 anos – com sintomas de ansiedade. Uma menina se debatia na maca enquanto aguardava atendimento. Um menino estava encolhido perto do responsável. Aquilo me assustou muito”, contou o pai.

O que poderia parecer um caso isolado é, na verdade, reflexo de um cenário mais amplo. Dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) mostram que os atendimentos de crianças e adolescentes nas unidades do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) aumentaram 33,47% entre 2023 e 2024. Entre os jovens de 10 a 14 anos, o crescimento foi de 45,6%, passando de 9,2 mil para 13,5 mil atendimentos. Já entre os adolescentes de 15 a 19 anos, o aumento foi de 25,15%, chegando a 16,9 mil casos registrados.

O ano de 2024 foi o que registrou o maior número de atendimentos nos últimos sete anos. Apenas no primeiro trimestre de 2025, foram contabilizados mais de 3,5 mil atendimentos na faixa etária de 10 a 14 anos e mais de 4 mil entre os jovens de 15 a 19 anos. Embora os números tenham se mantido semelhantes ao mesmo período do ano anterior, especialistas alertam que os casos se tornaram mais complexos e frequentes, especialmente os relacionados a transtornos de ansiedade.

De acordo com o psiquiatra Thiago Blanco, referência técnica da SES-DF, a ansiedade é hoje uma das principais preocupações de saúde mental entre crianças e adolescentes. Ele destaca que essa condição é marcada por preocupações excessivas e medos intensos que afetam o desempenho escolar, as relações familiares e sociais. O tratamento, segundo ele, exige uma rede de apoio consistente, com profissionais preparados para oferecer suporte adequado. Em casos mais graves, o uso de medicamentos pode ser necessário. Além disso, é essencial garantir ambientes acolhedores, tolerantes e amorosos na família, na escola e em outros espaços de convivência.

O atendimento pode começar pela Atenção Primária, nas unidades básicas de saúde (UBS), e ser encaminhado para os Caps conforme a gravidade. Nessas unidades, que acolhem casos de sofrimento mental grave, inclusive relacionados ao uso de álcool e outras drogas, o cuidado é oferecido em espaços coletivos e por meio de um Projeto Terapêutico Singular. Esse plano é elaborado em conjunto com o paciente, a família e a equipe de saúde, garantindo um atendimento mais humanizado, integrado e centrado nas necessidades reais de cada criança e adolescente.

Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF