Juros altos pressionam consumo
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Recursos deixaram de ser empenhados em compras e em investimentos como poupança
Um estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) revelou que famílias e empresas brasileiras destinaram, juntas, cerca de R$ 1,148 trilhão ao pagamento de juros em 2024 — um crescimento de 17% em relação a 2023. A maior parte desse montante saiu do bolso dos consumidores: R$ 859,9 bilhões, contra R$ 287,9 bilhões pagos pelas empresas. Apesar da queda na inadimplência, os dados mostram que o crédito continua sustentando o consumo no Brasil, ainda que às custas de um comprometimento crescente da renda.
Entre os lares brasileiros, o aumento da carga de juros foi expressivo: alta de 20,5% frente a 2023, enquanto a renda familiar avançou apenas 3,2%. Com isso, a fatia da renda destinada a juros subiu de 9,11% para 10,63% em um ano, impactando diretamente o orçamento doméstico e reduzindo espaço para consumo e poupança. Para os especialistas da entidade, esse descompasso entre custo do crédito e crescimento da renda cria um cenário preocupante para a sustentabilidade econômica das famílias.
Mesmo com juros elevados, o saldo das operações de crédito com as famílias cresceu 7,4%, somando R$ 2,22 trilhões. A taxa de juros média mensal paga pelos lares chegou a 3,58%, uma alta de 2,4% em comparação com o ano anterior. Segundo a FecomercioSP, a queda na inadimplência — de 5,9% em 2022 para 5,26% em 2024 — reflete menos uma melhoria nas finanças das famílias e mais a rolagem de dívidas, renegociações e adiamentos de consumo.
No setor empresarial, o valor gasto com juros também cresceu, embora em ritmo menor: 7,8% em 2024, totalizando R$ 287,9 bilhões. O destaque foi a redução significativa da inadimplência, que caiu 16,3% em valores absolutos e passou a representar 2,51% do crédito concedido.
A instituição alerta que os R$ 1,148 trilhão pagos em juros equivalem a 9,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Sem uma política fiscal mais ajustada e uma sinalização clara de queda da taxa Selic, o país corre o risco de manter juros reais entre 7% e 8% por mais tempo, limitando o crescimento do consumo e dos investimentos. A federação ressalta que, se o ritmo de desaceleração econômica se confirmar no segundo semestre, o Brasil pode enfrentar um novo ciclo de inadimplência em alta.