quarta-feira, outubro 22, 2025
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Baixos estoques acendem alerta no Hemocentro

Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Todos os tipos sanguíneos apresentam níveis de abastecimento abaixo do recomendado no Distrito Federal

A doação de sangue é um gesto simples, mas de valor incalculável para a manutenção da vida. No Distrito Federal, esse ato solidário é essencial para garantir o funcionamento dos hospitais e unidades de saúde, que dependem diariamente das bolsas coletadas pelo Hemocentro de Brasília. Cada doação pode beneficiar até quatro pessoas em situações que vão de cirurgias e tratamentos oncológicos a acidentes graves e complicações durante o parto. Apesar disso, os estoques locais vêm enfrentando períodos de instabilidade e operando abaixo do ideal, o que tem preocupado as equipes médicas e gestores da rede pública.

Nos últimos meses, o Hemocentro registrou uma média diária de doações inferior à necessária para atender à demanda do sistema. As reservas de sangue chegaram a níveis críticos, especialmente nos tipos O+ e B-. Entre as razões para essa queda estão fatores que vão desde a sazonalidade — como férias e feriados prolongados — até questões de saúde pública, como o aumento dos casos de dengue. A doença, além de elevar o número de transfusões, impede temporariamente que pessoas infectadas possam doar, gerando um duplo impacto negativo nos estoques.

Outro elemento que contribui para a redução das doações é o não comparecimento de voluntários que agendam o procedimento, mas acabam desistindo. As restrições temporárias após vacinas, gripes e infecções respiratórias também afetam a regularidade do fluxo de doadores. A pandemia de COVID-19 deixou um reflexo duradouro nesse comportamento, ao afastar parte da população dos centros de coleta e enfraquecer o hábito de doar periodicamente. Ainda que as campanhas de conscientização sigam ativas, o principal desafio do Hemocentro é fidelizar doadores e garantir uma cultura de doação contínua ao longo do ano.

O processo de coleta de sangue, por sua vez, é rápido, seguro e minuciosamente controlado. Antes da doação, o voluntário passa por uma triagem clínica e laboratorial que assegura tanto a saúde do doador quanto a segurança do receptor. A coleta dura em média dez minutos, e o volume retirado é rapidamente reposto pelo organismo. Todo o material utilizado é descartável e esterilizado, o que elimina qualquer risco de contaminação. Após essa etapa, o sangue é encaminhado para processamento, onde é separado em hemácias, plaquetas e plasma — componentes que serão destinados a diferentes tratamentos.

Cada uma dessas partes tem uma função vital: as hemácias tratam anemias e hemorragias; as plaquetas são essenciais para pacientes em quimioterapia ou com leucemia; e o plasma é utilizado em queimaduras e distúrbios de coagulação. Antes de ser liberado para os hospitais, o sangue passa por exames rigorosos que verificam a presença de doenças transmissíveis, como HIV e hepatites. Somente após a aprovação em todas essas etapas o material é disponibilizado às unidades de saúde do DF, de acordo com a necessidade de cada paciente.

Para se ter uma ideia da importância do volume das doações, a Fundação Hemocentrode Brasília (FHB), apenas no mês de setembro, distribuiu cerca de 8.900 bolsas, incluindo aquelas destinadas a pacientes e à produção de medicamentos.

De acordo com a fundação, ainda no mês de setembro, foram recebidas 4.373 doações de sangue, média de 145 procedimentos diários, número abaixo do ideal – 180 doações diárias, para manutenção dos estoques em níveis seguros e estratégicos.

Por isso, o Hemocentro reforça o apelo à comunidade brasiliense: doar sangue é um ato rápido, seguro e capaz de transformar vidas. Em momentos de escassez, cada doação faz diferença direta no atendimento de pacientes em estado crítico. Mais do que um gesto de empatia, é uma demonstração de cidadania e compromisso com a vida — um esforço coletivo que mantém a engrenagem da saúde em funcionamento e salva milhares de pessoas todos os anos no Distrito Federal.