Crédito deve ganhar força com Pix parcelado
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Novidade ainda não entrou em operação, mas exigirá mais atenção tanto das empresas quanto dos usuários
O avanço do Pix parcelado, previsto para ser oficializado ainda neste ano, promete inaugurar um novo capítulo no sistema de pagamentos brasileiro. A funcionalidade permitirá que consumidores parcelem compras diretamente no Pix, sem depender de modalidades tradicionais de crédito, ampliando o alcance de um meio que já domina o mercado: só em 2024, foram 63,8 bilhões de transações e R$ 26,9 trilhões movimentados, segundo a Febraban. O interesse crescente da população — mais de 60% utilizam o Pix mensalmente, de acordo com estudo da FGV — reforça o potencial de adoção rápida dessa novidade.
Para pequenas e médias empresas, o Pix parcelado é mais do que uma forma de pagamento: é uma ferramenta capaz de transformar o acesso ao crédito e a gestão do fluxo de caixa. A especialista financeira Ticiana Amorim destaca que a modalidade deve criar mais previsibilidade para os negócios, ao oferecer liquidação imediata para o lojista e pagamento parcelado para o cliente. Isso reduz a dependência de intermediários e pode melhorar o controle de margens, tornando as pequenas e médias empresas (PMEs) mais competitivas em um mercado cada vez mais digital.
Mas, junto às oportunidades, surgem desafios importantes. O Pix parcelado adiciona uma camada de complexidade ao ecossistema financeiro ao permitir que instituições embutam crédito diretamente nas transações. Isso exige das empresas uma gestão de risco mais sofisticada para lidar com inadimplência, precificação adequada e margens comprimidas — especialmente em um ambiente onde fintechs, bancos digitais e varejistas devem intensificar a competição pelo consumidor. Estratégias baseadas em dados, automação de processos e análise contínua do comportamento de pagamento tornam-se fundamentais.
Outro ponto crítico é o tempo de resposta operacional. Diferentemente do cartão ou boleto, que possuem intervalos de compensação, o Pix parcelado funciona quase em tempo real — o que demanda sistemas capazes de acompanhar recebíveis e evitar desequilíbrios financeiros. Para Ticiana, essa agilidade pode ser benéfica, desde que acompanhada de maturidade na tomada de decisão. “O Pix parcelado é um convite à maturidade financeira, e vai cobrar que as empresas enxerguem seus números e riscos com clareza para sair na frente”, afirma.
Com potencial para redefinir o relacionamento entre consumo, crédito e fluxo financeiro, o Pix parcelado deve impulsionar a inovação no setor e ampliar a inclusão financeira. No entanto, seu sucesso depende da capacidade das empresas de equilibrar oportunidades e riscos, adaptando processos e incorporando tecnologia para garantir sustentabilidade em um cenário cada vez mais dinâmico.

