Cartão de crédito proibido para bets
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Medida entraria em vigor no ano que vem, mas foi antecipada pelos gastos descontrolados
Com a regulamentação dos cassinos on-line no Brasil, houve um aumento expressivo nas apostas e, consequentemente, no endividamento das famílias. A facilidade de acesso a esses serviços e a possibilidade de utilizar diferentes meios de pagamento resultaram em um comprometimento significativo da renda de muitos brasileiros, que têm destinado recursos financeiros aos jogos de azar em detrimento de bens e serviços essenciais. A situação alarmante mobilizou várias entidades e órgãos governamentais, que agora buscam formas de mitigar o impacto desse fenômeno e proteger o orçamento familiar.
Como uma das primeiras ações para conter o avanço do endividamento, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) antecipou para o último dia 2 de outubro a proibição do uso de cartões de crédito para apostas on-line. Originalmente prevista para entrar em vigor apenas em 2025, a medida é uma resposta imediata ao crescimento acelerado das apostas eletrônicas e ao impacto negativo no consumo responsável. A decisão foi aprovada em uma reunião extraordinária da Abecs, que destacou a preocupação com a saúde financeira dos consumidores.
Embora o uso do cartão de crédito nas apostas on-line seja considerado pequeno em comparação a outros meios de pagamento, a antecipação da proibição é um passo importante para reduzir o acesso a crédito fácil. De acordo com a Abecs, o Pix atualmente domina o mercado de apostas eletrônicas, permitindo que muitos apostadores recorram a outras fontes de crédito, como o cheque especial, aumentando o risco de endividamento. Nesse contexto, a Abecs também sugere um debate mais amplo sobre a necessidade de limitar o uso de outras formas de financiamento para apostas.
A divergência nos números apresentados pelas instituições financeiras evidencia a complexidade do problema. Enquanto a Abecs estima que menos de 1% das apostas on-line seja pago com cartões de crédito, o Banco Central sugere que essa participação possa chegar a 15% em alguns casos. Essa discrepância indica que ainda há muito a ser investigado sobre a relação entre os meios de pagamento e o crescimento das apostas, o que reforça a importância de medidas regulatórias mais abrangentes.
Além da proibição do cartão de crédito, especialistas defendem a criação de políticas públicas de conscientização financeira para prevenir o superendividamento. É necessário alertar a população sobre os riscos das apostas e incentivar o uso responsável de recursos. Sem uma abordagem educacional e preventiva, há o risco de que, mesmo com a restrição dos cartões, os jogadores migrem para outras formas de financiamento, como empréstimos pessoais ou o próprio Pix, agravando o problema.
Com o avanço das apostas on-line, torna-se essencial que o governo e as instituições financeiras atuem em conjunto para implementar uma regulação mais robusta e eficaz. Isso inclui não apenas a limitação de meios de pagamento, mas também a criação de mecanismos para rastrear o uso de recursos em plataformas de jogos e a adoção de campanhas educativas. Dessa forma, será possível proteger os consumidores e reduzir o impacto das apostas no endividamento das famílias brasileiras.