Cresce mortes de jovens por covid
Foto: Breno Esaki-Secretaria de Saúde
Especialista cita que o aumento de mortes por covid-19 entre jovens passou de 13,1% para 38,5% nos últimos cinco meses em todo país. No DF, foi de 0,9% do total de óbitos para 1,4%. Profissionais incentivam distanciamento e medidas sanitárias
Com a chegada da segunda onda de contaminação pelo novo coronavírus um alerta vem sendo redobrado: a alta do número de pacientes jovens internados e mortos. A situação vem sendo discutida em todo o mundo e no Distrito Federal não tem sido diferente. O aviso é um só: a covid-19 não escolhe idade e mata idosos, adultos, jovens e crianças. Especialistas, governo e sociedade médica apelam mais uma vez para que a população siga as medidas sanitárias que possam conter novos casos. De acordo com o governo do DF, a capital e regiões administrativas já contabilizam, apenas neste ano, 168 mil contaminados pela doença entre as pessoas que têm até 39 anos – essa faixa é enquadrada na categoria dos jovens pela Saúde.
De acordo com o infectologista Daniel Pompetti, do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), “Há algumas semanas, estamos verificando que o número de pacientes jovens em estado grave da covid tem crescido muito nas nossas unidades de saúde”.
Para o médico, isso ocorre porque os jovens são os que mais se expõem ao sair de casa para trabalhar ou simplesmente encontrar os amigos, seja em uma quadra de esporte, seja na balada. “Muitos relaxaram nas próprias medidas de proteção, e isso precisa ser corrigido o quanto antes”, adverte. Outro fator é que a nova cepa do coronavírus contamina mais e é mais letal, não poupando nem mesmo crianças.
O médico intensivista Ederlon Rezende, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), cita que o aumento de mortes por covid-19 entre jovens passou de 13,1% para 38,5% nos últimos cinco meses em todo país. Segundo o profissional de saúde, o dado mostra como o coronavírus pode chegar com sintomas graves a uma faixa etária mais baixa. “Mudou o que todos acreditavam no início, que as pessoas jovens estavam protegidas de ter a forma mais grave da doença. Elas estão chegando nas UTIs colapsadas, o que também tem contribuído para as taxas de mortalidade mais elevadas”, disse Rezende.
Outro motivo para esse crescimento, segundo o médico, é a possibilidade da variante P1 provocar sintomas mais graves nas pessoas. “Eles chegam nos leitos com maior frequência de precisarem de ventilação mecânica e suportes dialítico e ECMO. Como eles têm um organismo com mais reserva funcional, apesar da gravidade da doença, tendem a resistir por mais tempo e acabam tendo internações mais prolongadas.”, relata.
A enfermeira Erica Lima, intensivista, aponta que “o que mais acontece é que os jovens não dão tanta importância às regras básicas que previnem a contaminação pelo coronavírus: usar máscara, lavar as mãos com sabão, higienizá-las com álcool gel e evitar aglomeração. Temos acompanhado uma crescente. E as mortes também aumentaram muito. E devemos ter consciência de que as ‘novas’ práticas, que nem deveriam ser chamadas assim, são extremamente essenciais e passarão a fazer parte da vida das pessoas. Isso deve ser um hábito para o resto da vida”, afirma.
Erica diz que “uma das coisas que mais se ouve no ambiente hospitalar é que os jovens são mais imprudentes, por se sentirem à vontade para sair porque acham que se pegarem covid-19 só vão perder paladar e olfato. Infelizmente não é assim. Eles acabam perdendo a vida. Por isso, não me canso de pedir, fiquem em casa, se puderem. Só saiam se for necessário. Evitem aglomerações e aumentem a higiene pessoal, usem máscara e álcool, lavem sempre as mãos com sabão e cuidem-se, essa doença não é brincadeira”.
O DF Notícias entrou em contato com a Secretaria de Saúde para verificar os casos, saber a quantidade de jovens e crianças internados em UTI na rede pública de saúde com covid-19. Dados do Governo apontam que entre 0 e 24 anos, de março de 2020 a março de 2021, foram 53 pessoas. Entre 25 e 59 anos, foram registrados 1.127 pessoas nas Unidades de Terapia Intensiva. Segundo a Secretaria de Saúde, “os dados são extraídos de um sistema, que só disponibiliza trimestralmente. Os dados de fevereiro não estão disponíveis ainda, os dados de março foram feitos manualmente pela área técnica no início do mês”.
A taxa de ocupação dos leitos pediátricos atingiu 80% no último domingo (28). Nos últimos levantamentos da Secretaria de Saúde, o maior número de internações é de pessoas entre 25 e 59 anos. Além disso, “em janeiro, apenas uma pessoa na faixa etária entre zero e 24 anos foi internada com covid em Brasília. Em março, o número é 29 vezes maior, em comparação com o início do ano”.
Houve aumento na taxa de mortes de jovens entre 20 e 29 anos, segundo a Casa Civil. No início do ano, elas simbolizavam 0,9% do total de óbitos, entre fevereiro e março, o índice passou para 1,4%.
Dados no Brasil
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que os dados mais recentes da evolução dos casos de covid-19 no Brasil apontam para o aumento dos casos da doença entre os mais jovens. “O país se encontra em uma situação de colapso do sistema de saúde, ao mesmo tempo que a pandemia vem ganhando novos contornos afetando faixas etárias mais jovens: 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos”, aponta a Fiocruz.