Cuidados paliativos horam vida de pacientes
Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF
Transformar a rotina de pacientes internados em estados mais graves ou com idade avançada tem sido o propósito do trabalho de duas servidoras do Hospital de Samambaia
Humanização é a ação ou efeito de humanizar, de tornar humano ou mais humano, tornar benévolo, tornar afável. Na saúde essa atitude pode transformar a vida de pacientes e familiares, trazendo conforto a todos que passam por situação de doença de um ente querido.
Pacientes que inspiram cuidados paliativos internados no Hospital Regional de Samambaia (HRSam) podem desfrutar dessa humanização graças ao trabalho de duas servidoras que têm feito a diferença na vida deles e de seus familiares.
“As pessoas acham que a gente só age em casos terminais, mas não é assim. Quanto mais cedo o paciente entra na rotina de cuidados paliativos, mais qualidade de vida ele tem”, afirma a Cristiane Cordeiro, médica que iniciou, em 2020, os cuidados paliativos na unidade.
Em março do ano passado, Cristiane ganhou o reforço da enfermeira Ana Catarine Carneiro, que é especialista no mesmo segmento. “Nós honramos a vida. Trabalhamos para que o paciente seja visto com dignidade, de forma individual, com desejos, valores e vontades até o fim”, diz a enfermeira. Juntas, as duas compartilham a paixão pelo campo de atuação e atendem, em média, 45 pessoas por mês no HRSam.
Público-alvo
O público-alvo são pacientes em estado mais grave, com doenças que ameaçam a vida ou com idade avançada. A avaliação é feita caso a caso, levando em consideração as vontades e principais queixas de cada enfermo. “O atendimento é extremamente individualizado, identificamos o que é benéfico para cada pessoa”, esclarece a enfermeira.
Anastácio Francisco de Aguiar, por exemplo, tinha um câncer no pulmão já em estágio avançado. Apaixonado por plantas e jardinagem, criou um jardim no HRSam. Porém, não quis passar os últimos dias no hospital e terminou sua vida ao lado dos seus entes queridos. O último pedido do Anastácio? Que cuidassem do seu jardim. Por isso, a equipe da unidade mantém viva a memória dele, que agora é homenageado com uma placa no local.
Para identificar os pacientes elegíveis aos cuidados paliativos, Cristiane e Ana Catarine fazem busca ativa. Verificam diariamente os perfis de quem está internado em todas as alas do hospital e conferem a necessidade de realizar a interconsulta, que é uma consulta durante a internação. “Por exemplo, às vezes, o paciente está com muita secreção na boca e passamos a usar medicação para diminuir esse sintoma. Tem dor ou falta de ar? Também entramos com medicamento para aliviar”, exemplifica Ana Catarine.
Estrela*, 66 anos, está acamada há 10, com demência em estado avançado. Ela chegou às mãos dos cuidados paliativos no último dia 12 de abril. “Quando a vi, tinha um semblante sofrido, apesar de ser muito bem-cuidada em casa”, relembra a enfermeira. Era necessário aspirar secreção das vias aéreas da paciente mais de 10 vezes ao dia.
Após mudar a medicação, já no dia seguinte, Estrela precisou passar pelo procedimento apenas uma vez, diminuindo significativamente o estresse da paciente. “Ela mudou completamente, nem parece a mesma. Está bem mais tranquila”, diz o fisioterapeuta Flânio Cruz, que cuida da paciente no HRSam.
Atenção à família
Quando recebem um novo paciente, as servidoras também reúnem os familiares para conversar sobre o estado de saúde e mantém contato direto com eles durante todo o processo da doença. “Nos cuidados paliativos, focamos o paciente e a família”, afirma a enfermeira. “Tiramos as dúvidas e explicamos o que está acontecendo, mas usamos uma comunicação gentil”, completa.
A atuação dos cuidados paliativos inicia no diagnóstico de uma doença complicada, acompanha o avanço do estado de saúde, a morte do paciente e continua após cada perda. “É preciso cuidar da saúde mental de quem fica”, ressalta Cristiane. Elas realizam, em média, 30 atendimentos a familiares por mês.
Quem trabalha com paixão pelo que faz sempre marca a vida das pessoas que atende e faz a diferença na rotina de quem convive. Para compartilhar o conhecimento, Cristiane e Ana Catarine já sensibilizaram cerca de 100 outros profissionais do HRSam em relação aos cuidados paliativos.
“Muitos aparelhos são capazes de prolongar a biologia e manter o coração batendo, mas não consideram a biografia daquela pessoa. Esse é o nosso trabalho”, defende Cristiane. “Eu luto pra ouvir o que a pessoa gosta, o que ela acha importante. Como ela vê a vida. Quais são os seus valores. O que ela gosta de comer, de fazer. Atuo para honrar a vida de cada um desses pacientes”, finaliza Catarine.
*Nomes fictícios para preservar a identidade das pacientes.
Com informações da Agência Saúde