quinta-feira, setembro 4, 2025
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Mosquito do bem revoluciona combate à dengue no DF

Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF

Dengue, zikachikungunya e febre amarela são alvos de bactéria que extermina vírus em mosquitos

O Distrito Federal vem registrando resultados expressivos no enfrentamento às arboviroses. De acordo com o Boletim Epidemiológico mais recente da Subsecretaria de Vigilância à Saúde, até 2 de agosto foram notificados 17.716 casos suspeitos de dengue, sendo 8.872 prováveis. O número representa uma queda de 96,9% em relação ao mesmo período de 2024, quando havia 272.546 registros prováveis da doença. A redução é atribuída ao conjunto de ações implementadas pelo governo local, entre elas o uso de uma nova tecnologia: a produção do chamado “mosquito amigo”.

Produzidos na biofábrica instalada no DF, os insetos são portadores da bactéria Wolbachia, que impede a multiplicação dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela no organismo do mosquito. O método, já aplicado em outras regiões do país, é considerado seguro por especialistas e vem sendo ampliado como ferramenta de saúde pública.

Segundo Caio Rabelo, coordenador de operações da Wolbito do Brasil, a bactéria não oferece riscos. “A Wolbachia já está naturalmente presente em vários insetos, como as abelhas. Consumimos seus produtos e temos contato com essa bactéria desde sempre, então sabemos que ela não causa nada”, explica.

O subsecretário de Vigilância à Saúde, Fabiano dos Anjos Martins, reforça que a estratégia é eficaz e não afeta o equilíbrio ambiental. “A Wolbachia não faz nenhum mal, nem para o mosquito, nem para qualquer outro animal. Mas ela impede que o vírus consiga se reproduzir nesse mosquito, quebrando o ciclo da transmissão”, detalha.

Na prática, os ovos dos wolbitos chegam ao DF encapsulados, vindos de Curitiba (PR). Eles são colocados em potes com água e alimento em ambiente controlado, com temperatura em torno de 30ºC, o que garante o desenvolvimento adequado até a fase adulta. Em até duas semanas, os mosquitos estão prontos para serem distribuídos nas regiões administrativas.

Os recipientes com os insetos são transportados em caixas e liberados em áreas específicas. Nesta fase do projeto, as solturas ocorrem em Planaltina, Brazlândia, Sobradinho II, São Sebastião, Fercal, Estrutural, Varjão, Arapoanga, Paranoá e Itapoã, além de Luziânia e Valparaíso, em Goiás.

Após liberados no meio ambiente, os mosquitos passam a se reproduzir com os Aedes aegypti selvagens, transmitindo a bactéria para as próximas gerações. Há ainda outro efeito positivo: quando um macho infectado cruza com uma fêmea não infectada, os ovos não eclodem, ajudando a reduzir a população de mosquitos transmissores.

Para o gerente de Implementação da Wolbito do Brasil, Gabriel Sylvestre, a medida tende a se sustentar ao longo do tempo. “Com a soltura dessa população de ‘mosquitos amigos’, a tendência é reduzir a transmissão dos vírus. A médio prazo, a proporção de wolbitos aumenta e a de mosquitos comuns diminui”, avalia.

Moradores das regiões contempladas já comemoram a chegada da tecnologia. A dona de casa Maria Lúcia Silva, de 47 anos, moradora de Sobradinho II, lembra das dificuldades que enfrentou quando contraiu dengue no ano passado. “Foi muito difícil, tive febre alta, dores no corpo e fiquei semanas sem conseguir cuidar da minha casa. Saber que agora existe essa tecnologia me dá esperança de que outras famílias não precisem passar pelo que eu passei”, relata.

A experiência de Maria Lúcia ilustra o impacto direto das iniciativas de prevenção. Além da redução da circulação do vírus, a expectativa é de menor pressão sobre os serviços de saúde e mais segurança para a população durante o período chuvoso, quando a proliferação do mosquito costuma aumentar.

Combinando tecnologia, monitoramento constante e participação da comunidade, o DF se posiciona na vanguarda do combate às arboviroses no país. As autoridades de saúde ressaltam que a estratégia não substitui cuidados básicos, como evitar água parada, mas se soma a eles como uma ferramenta inovadora e capaz de transformar o cenário epidemiológico.

Se confirmada a tendência de queda nos casos, o uso do “mosquito amigo” poderá se tornar referência para outras regiões do Brasil. Para a população, a expectativa é clara: um futuro mais protegido contra doenças que há anos desafiam o sistema de saúde.