Viver sobrevivendo: violência contra mulher
Foto: Paulo H. Carvalho – Agência Brasil
É necessária a conscientização nos lares e na criação dos filhos, incluindo o respeito à mulher para que haja mudanças efetivas
Apesar de estarmos em pleno século XXI, alguns comportamentos provenientes da cultura patriarcal têm sido uma constante nos noticiários, tendo se intensificado no período de isolamento social, por conta da pandemia do novo coronavírus. Temos assistido inúmeros casos de violência contra a mulher, independente de classe social.
Permanecer na relação após sucessivos episódios de violência ou retomá-la após períodos de separação é comum na vida de mulheres que sofrem violência. As vítimas, em geral, apresentam um padrão de relação que se caracteriza, segundo Dobash e Dobash (1979), por três movimentos: permanecer na relação, separar-se e voltar a conviver com o agressor. O processo de conscientização da mulher e do seu papel na perpetuação desse comportamento é fundamental para que ela possa quebrar esse ciclo se tornando agente de mudança na sua vida e de seus filhos.
Um dos fatores que contribui para que a mulher vítima de violência permaneça ou volte a se relacionar com o agressor é a mudança de comportamento do autor, tendo em vista que ele costuma passar por um tempo pacífico, demonstrando cuidado excessivo com a vítima, que na verdade se trata de controle e posse.
Em 1993, na Conferência Mundial dos Direitos Humanos, realizada em Viena, a violência contra as mulheres e as crianças foi considerada o maior crime contra a humanidade com mais vítimas do que qualquer guerra mundial. Reconhece-se então, pela primeira vez, a conduta como uma violação dos Direitos Humanos.
Nesse ano, na 48ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi aprovada a Declaração Sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres (Resolução A/RES/48/104 de Dezembro de 1993), na qual se refere: “A violência contra as mulheres não tem classe social, não tem idade, não consegue definir o opressor e é desenhada quase endemicamente”, e define-a como: “Todo o ato de violência específica por razões de sexo, que resulta ou possa resultar em danos ou sofrimento físico, sexual ou psíquico para as mulheres, incluindo a ameaça de tais atos, a coação ou a privação arbitrária da liberdade “.
Nota-se que apesar de muitas evoluções, temos muito a denunciar e a lutar pela integridade da mulher. É necessária a conscientização nos lares e na criação dos filhos, incluindo o respeito à mulher para que haja mudanças efetivas.
Desde que a pandemia de coronavírus começou, 497 mulheres perderam suas vidas no país. Foi um feminicídio a cada nove horas entre março e agosto de 2020, com uma média de três mortes por dia. São Paulo, com 79 casos, Minas Gerais, com 64, e Bahia, com 49, foram os estados que registraram maior número absoluto de casos no período. No total, os estados que fazem parte do levantamento registraram redução de 6% no número de casos em comparação com o mesmo período de 2019, (dados de outubro de 2020). As informações são do segundo monitoramento “Um Vírus e Duas Guerras”, feito por parceria entre sete veículos de jornalismo independente, que visa monitorar a evolução da violência contra a mulher durante a pandemia.
“As mulheres continuam em lugares violentos por razões que vão desde o amor ao terror”. (Wafe)