terça-feira, novembro 12, 2024
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Aneurisma Cerebral: o que todo paciente deve saber

Imagem: Divulgação

Neurocirurgião explica as causas, sintomas e tratamentos para uma das doenças cerebrais mais graves

O Aneurisma Cerebral é relativamente comum, afetando em torno de 1 a 5 % da população em geral. Com base nestes dados, teríamos de 2 a 10 milhões de portadores de aneurismas incidentais (não-rotos) no Brasil. A grande maioria não se rompe, porém quando isso acontece o resultado em geral é catastrófico.

Uma vez que houve um aumento vertiginoso na realização de exames de imagem como ressonância, tomografia, angiografia, a quantidade de aneurismas não-rotos diagnosticados deu um salto nos últimos anos.

Neste cenário, devemos identificar os aneurismas que possuem maior chance de se romperem, com o intuito de tratar, prevenindo sequelas neurológicas graves e morte.

A causa ainda é indeterminada, porém conhecemos várias condições relacionadas ao aneurisma cerebral:

• congênitos (sem causa aparente, maioria dos casos)

• doença renal policística dominante

• displasia fibromuscular

• mal formações arterio venosas

• síndrome de Ehlers-Danlos

• Marfam

• pseudoxantoma elástico

• síndrome do aneurisma intracraniano familiar

• coarctação da aorta

• Osler-Weber-Rendu

• Aterosclerose

• endocardite bacteriana

• neoplasia endócrina múltiplatipo 1

• teleangiectasia hereditária hemorrágica

• neurofibromatose tipo 1

• trauma

Quando não tratados, alguns aneurismas possuem um risco de ruptura alto, controverso na literatura, variando de 1 a 3% ao ano (risco cumulativo de 10 a 35% em 10 anos).

Para ajudar na decisão de tratar ou somente acompanhar um aneurisma cerebral, conhecemos alguns fatores já bem estabelecidos que contribuem para que o aneurisma se rompa:

• tamanho do aneurisma

• localização

• formato (morfologia)

• idade e sexo do paciente

• tabagismo

• condições genéticas

• histologia (inflamação da parede do aneurisma)

Sintomas

Em primeiro lugar, quando o aneurisma se rompe, em geral os sintomas são de inícioimediato e muito graves: início súbito de cefaleia, alguns casos a pior da vida, geralmente com vômitos, síncope, dor no pescoço e fotofobia, pode apresentar alterações na sensibilidade, pode ocorrer déficits de nervos cranianos, pode ocorrer lombalgia, hemorragia ocular e até coma. Alta taxa de mortalidade.

Além dos sinais e sintomas que ocorrem após o aneurisma se romper, uma pequena parte deles podem apresentar alguns tipos de sintomas antes que se rompam, o que pode levar ao diagnóstico precoce. Alguns exemplos de sintomas produzidos por aneurismas não-rotos são:

Efeito de massa: aneurismas grandes que comprimem estruturas nervosas vizinhas, como por exemplo aneurisma grande que comprime o nervo óptico (desse modo causando alteração na visão), aneurisma que comprime o nervo oculomotor (causando queda da pálpebra e/ou visão dupla), aneurisma comprimindo a haste hipofisária causando alterações nos hormônios, aneurisma comprimindo o nervo trigêmio causando dessa maneira dor facial, dentre outros.

Hemorragia aviso ou hemorragia sentinela: discreto sangramento do aneurisma, as vezes somente um crescimento de suas paredes, com cefaleia menos intensa que na ruptura, porém acontecendo esse tipo de hemorragia sentinela mais da metade destes aneurismas irão se romper totalmente dentro de uma semana.

Pequenos infartos ou isquemia encefálica transitória: devido à embolização distal (como o fluxo sanguíneo dentro do aneurisma é lento e irregular, ocorre a formação de trombos, esses trombos podem se deslocar e obstruir a artéria distal ao aneurisma).

Convulsões: na cirurgia, pode ser encontrada uma área adjacente de encefalomalácia (cérebro inchado) em alguns casos.

Diagnóstico

O diagnóstico mais preciso, há muito tempo padrão ouro na detecção do aneurisma, é a arteriografia cerebral. Um cateterismo cerebral, que consegue detectar aneurismas de menos de 1 mm com detalhes, além de informações a respeito do fluxo sanguíneo.

Foto: Divulgação 

Por causa de imensos avanços da tecnologia, ultimamente temos usado muito os exames não invasivos, como angiorressonância e angiotomografia, que conseguem com uma boa precisão detectar aneurismas maiores que 2 mm.

Tratamento 

Uma vez decidido pelo tratamento, existem dois tipos:

Clipagem: o padrão ouro cirúrgico. A colocação cirúrgica de um clipe através do colo do aneurisma para excluir o aneurisma de sua circulação, sem ocluir os vasos normais

Embolização: trombosando o aneurisma através da colocação de molas, stents, e outros dispositivos, via endovascular (cateterismo).

Além disso, é preciso considerar alguns fatores como: ambiente de cuidados – equipamento disponível; habilidade e experiência do neurocirurgião e intervencionista; anatomia e localização do aneurisma; efeito de massa – a clipagem parece ser melhor que a colocação de molas para a recuperação da pálpebra caída e visão dupla (87 versus 44%) e idade do paciente – idade mais jovem, risco mais baixo de cirurgia, e risco vitalício mais baixo de recorrência do que com molas

DR. Fábio Teixeira Giovanetti Pontes – Neurocirurgião – CRM DF 23978 | RQE 14898