Brasil é o segundo país com mais jovens nem-nem
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Fatores como crise econômica e social e a dependência financeira e residencial estão entre os motivos que impactam a geração
A expressão “nem-nem” já é bastante difundida no país e se refere a jovens que nem estudam e nem trabalham. Essa é uma realidade de mais de 7 milhões de jovens brasileiros na faixa dos 15 aos 29 anos. Número deixou o país em segundo lugar no ranking mundial de pessoas que estão fora da escola e do mercado de trabalho.
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 2022, 36% das pessoas entre 18 e 24 anos estão nessa condição no Brasil, ficando atrás apenas da África do Sul.
Cenário vem ganhando destaque nos últimos anos pela crescente dificuldade enfrentada por esse grupo de jovens para se inserir no mercado de trabalho e não conseguirem dar continuidade aos estudos. Para o consultor empresarial, André Minucci, o número elevado se justifica por algumas características da sociedade brasileira.
“À medida que houve um crescimento da exigência de formação e experiência, o mercado de trabalho tornou-se mais restrito para aqueles que não têm uma educação formal completa ou qualificação adicional. Também há falhas no sistema educacional e a ausência de mecanismos de incentivo, o que leva à desistência dos estudos ou à formação precária em boa parte da população”, analisa Minucci.
André também afirma que existe uma competição acirrada por vagas trabalho. Além disso, há presença de dois tópicos importantes na geração nem-nem: a crise econômica e social e a dependência financeira e residencial.
“As crises enfrentadas pelo Brasil desde o final dos anos 90 tiveram impacto significativo na perspectiva desses jovens. A instabilidade econômica e a insatisfação profissional são fatores que contribuíram para a falta de perspectiva”, explica o consultor.
“Além disso, houve um aumento no número de jovens que são financeiramente dependentes de suas famílias e residem com seus parentes, o que pode dificultar a busca por independência e inserção no mercado de trabalho”, pontua Minucci.
Providências
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que 73% da geração nem-nem é formada por mulheres, tendo a gravidez precoce como principal causa. Os dados da pesquisa também mostram que o Brasil tem 3 milhões de pessoas desocupadas, que estão procurando emprego há mais de dois anos, e cerca de 5 milhões de desalentados — quem desistiu de procurar trabalho. Segundo o Ipea, metade deles não completou o ensino fundamental, 25% estão na faixa etária de 18 a 24 anos.
Para o consultor é preciso mais empenho quanto as políticas públicas para reverter o quadro dos jovens nem-nem. “Os números confirmam a necessidade de políticas públicas para ajudar os jovens a se profissionalizarem e ingressarem no mercado de trabalho. As consequências da geração nem-nem vão além do desemprego, incluem o aumento da diferença da desigualdade social e afetam os problemas com a saúde mental. Muitos jovens se sentem pressionados a conseguirem uma formação e um trabalho cada vez mais cedo, o que os afetam psicologicamente”.
André aponta algumas medidas para superar essa realidade no país. “É preciso que investir na educação e qualificação profissional fortalecendo o sistema educacional e oferecendo oportunidades de capacitação profissional, para que os jovens adquiram habilidades relevantes para o mercado de trabalho atual. Outro aspecto é incentivar o empreendedorismo, o que pode ser uma alternativa para que jovens encontrem formas criativas de se inserir no mercado”, destaca.
“É preciso também promover ações de inclusão social que visem a redução das desigualdades, isso pode ajudar a abrir novas possibilidades para os jovens da geração nem-nem”. Além disso, o consultor destaca a necessidade de investimento na saúde mental. “Por não conseguir concluir os estudos ou não achar emprego, é natural vir o desanimo e a pressão social. É importante buscar ajuda de psicólogos para orientar e ajudar em um momento que as oportunidades parecem escassas”, finaliza.