segunda-feira, setembro 16, 2024
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Gastos públicos e câmbio podem elevar juros

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Copom afirma que despesas e instabilidade externa impactam as expectativas econômicas

A recente alta do dólar e o aumento dos gastos públicos têm preocupado o Banco Central (BC) do Brasil, influenciando diretamente as expectativas de inflação. Em comunicado divulgado na última terça-feira (6), o BC destacou a necessidade de considerar a elevação da taxa de juros para garantir que a inflação convirja à meta estabelecida. Esse cenário desafiador se intensifica com projeções inflacionárias mais elevadas e riscos crescentes.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a taxa Selic em 10,5% ao ano, após um ciclo de sete reduções consecutivas entre agosto de 2023 e maio de 2024. A próxima reunião do Copom está agendada para 17 e 18 de setembro, quando serão discutidas as estratégias para controlar a inflação no horizonte relevante, que agora se estende até o primeiro trimestre de 2026. Segundo a ata da última reunião, os membros do comitê estão acompanhando de perto os fatores que influenciam a inflação e não hesitarão em aumentar os juros se necessário.

A política monetária do BC busca equilibrar a atividade econômica e o controle da inflação. Quando a Selic é reduzida, o crédito se torna mais acessível, incentivando o consumo e a produção. No entanto, quando a taxa de juros é aumentada, a intenção é conter a demanda aquecida, o que pode refletir nos preços e estimular a poupança. Em junho, a inflação brasileira foi de 0,21%, influenciada principalmente pelos preços de alimentação e bebidas, acumulando 4,23% nos últimos 12 meses, ainda acima da meta do BC, que é de 3%.

A ata do Copom também enfatizou a importância de uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida pública. O crescimento dos gastos públicos e as incertezas sobre a estabilidade fiscal têm impactado as expectativas de mercado e os preços dos ativos financeiros. A falta de reformas estruturais e a indisciplina fiscal podem elevar a taxa de juros neutra, dificultando a eficácia da política monetária e aumentando o custo de desinflação.

O cenário internacional adverso, marcado pela volatilidade dos mercados e a aversão ao risco, também contribui para a pressão sobre a taxa de câmbio nos países emergentes. A alta do dólar, que acumulou um aumento de 15,15% no primeiro semestre de 2024, exerce um impacto significativo nos preços internos do Brasil. Apesar de a política monetária brasileira não estar mecanicamente atrelada à norte-americana, a conjuntura externa influencia a inflação interna, exigindo uma postura cautelosa por parte do BC.