quinta-feira, abril 25, 2024
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Rede pública: retorno é incerto

Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

Governo afirma que categoria está 100% vacinada, mas Sinpro-DF aponta que isso não garante imunização

As aulas presenciais nas escolas públicas do Distrito Federal estão previstas para retornarem a partir do dia 2 de agosto. Isso porque, segundo informação da Secretaria de Educação, os 56 mil profissionais da rede pública de ensino foram imunizados.

“Vamos garantir, ainda, que esse percentual também chegue à rede privada, que não parou de trabalhar e está mantendo as aulas presenciais”, destacou o secretário de Educação, Leandro Cruz. Para o governo, o DF está preparado para o retorno.

Porém, a volta às aula esbarra em um problema: O Sinpro-DF aponta que “oferta de vacina para 100% dos trabalhadores em educação não significa categoria completamente imunizada. Uma série de professoras/es e orientadoras/es educacionais, por exemplo, por motivos diversos, seguem sem tomar a vacina contra o vírus, e isso implica no retorno presencial às aulas”.

“Há trabalhadores que tiveram impedimento e não puderam tomar a vacina contra a covid-19. Há os que estiveram doentes, os que tomaram apenas uma dose de vacinas que precisam de duas doses para atingir seu percentual de imunização; há também os que relatam que não tiveram o nome incluído na lista. Portanto, para o retorno presencial às salas de aula, mesmo no critério da vacinação, há situações a serem tratadas”, afirma a diretora do Sinpro-DF Rosilene Corrêa.

A mãe de alunas, Natalia Paiva, conta que está ansiosa pelo retorno das aulas. “Eu acredito que já é hora de voltar, porque as escolas particulares estão funcionando, os professores da rede pública já foram vacinados. Agora, apesar dos números altos, temos mais pessoas imunizadas. Estou confiante no retorno e ansiosa pela volta das minhas filhas à escola. Todas as mães que conheço apontam prejuízos educacionais em casa”.

Na contramão do sindicato, a Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal, ASPA-DF, manifesta-se favorável ao retorno, aponta os benefícios das aulas presenciais e defende a reabertura segura das escolas no DF. “A suspensão das atividades presenciais nas escolas foi uma medida necessária inicialmente, quando não se conhecia o comportamento do vírus. Sempre deveria ter sido medida excepcional e temporária. Deixar as escolas fechadas de forma indeterminada, como vem ocorrendo no Brasil e especialmente com as escolas públicas do DF, viola o princípio da prioridade do direito da criança e tem levado a consequências gravíssimas para as famílias afetadas”, aponta a Associação.

Para a entidade, “O Distrito Federal apresenta no momento recorde mundial em tempo de escolas públicas fechadas (483 dias, em 07/07/2021). Escolas públicas já reabriram em Angola, Sudão do Sul, Afeganistão, Moçambique, Uganda e em diversos outros países com contextos econômicos e sociais desfavoráveis. No contexto nacional, escolas públicas estão abertas em diversos estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul”.

Para a ASPA, “Devemos abordar também as consequências das escolas fechadas no contexto de prevenção e notificação de violência. A escola faz parte da parte da rede de proteção à criança prevista no Estatuto da criança e do adolescente. Com as escolas fechadas, houve aumento de casos de violência doméstica e abuso sexual e gravidez na adolescência.  Muitos casos não são notificados, pois as crianças não podem mais denunciar o agressor para os professores. Em diversos casos, o olhar atento do professor na sala de aula era responsável por detectar casos de violência ou abuso. Com as escolas fechadas, este importante canal de comunicação foi cortado. Muitas crianças estão presas em casa com os algozes. Uma grande parte dos pais são ainda obrigados a recorrer a creches clandestinas, para que possam sair para trabalhar. Nestes ambientes, não há nenhuma fiscalização ou protocolo sanitário em vigor”.

Danos aos alunos

Eu acredito que já é hora de voltar”

“As sequelas sociais da política de manter escolas públicas fechadas também são numerosas. É notável a redução da participação de mulheres no mercado de trabalho, pois muitas precisam ficar em casa com os filhos. Com as escolas públicas fechadas, observaremos um aumento da desigualdade econômica e racial, pois crianças negras e pobres, em muitos estados, são estatisticamente maior parte dos alunos da rede pública”, aponta a Associação.

A Aspa observa que em 500 dias de escolas fechadas foram percebidos diversos efeitos deletérios para as crianças e adolescentes. Houve aumento da incidência de obesidade, intolerância a glicose e puberdade precoce. Foi observado também redução da capacidade pulmonar e resistência física das crianças, possivelmente efeito do sedentarismo.

“Em relação à saúde mental das crianças e adolescentes, os efeitos são trágicos. Há diversos relatos na literatura de aumento de tentativas de suicídio e suicídio, principalmente em meninas”, disse Ana Paula Carreira, vice-presidente da ASPA-DF.

A psicóloga Rita Rocha (CRP 01/19406) avalia que “embora tenhamos muito medo em relação ao vírus, transmissão, os professores estando imunizados já é um primeiro passo. O ideal seria que as crianças também estivessem imunizadas, não estando, precisamos que as escolas estejam preparadas com itens necessários, como álcool gel, sabão, água e papel para higienização das mãos. Como especialista na área de saúde mental e desenvolvimento humano, além das questões de contágio e transmissão a preocupação muito grande que temos no momento é com a saúde mental das crianças e pais, das pessoas que estão em casa. Principalmente crianças que residem em prédios sem acesso a lazer, que perderam sua rotina. Tenho acompanhado muitas crianças no consultório que sentem dificuldade em acompanhar aula on-line, não conseguem assistir aula remota. Dentro da saúde mental há essa necessidade, vamos ter um prejuízo muito grande com todo esse afastamento, principalmente das crianças que necessitam da rede pública, com defasagem. A questão social vai ficar muito mais distante para alcançar igualdade social em nosso país, e tudo isso acarreta também na saúde mental. Os pais estão preocupados também com essas crianças dentro de casa, pois algumas apresentam crises de ansiedade ou não querem mais sair de forma nenhuma, amedrontados”, conta.

Suspensão de aulas

Pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que 99,3% das escolas brasileiras suspenderam as atividades presenciais durante a pandemia de covid-19. O estudo, chamado Resposta Educacional à Pandemia de Covid-19 no Brasil, mostra que pouco mais de 53% das escolas públicas conseguiram manter o calendário letivo original para 2020. No ensino privado, cerca de 70% das escolas conseguiram manter a previsão de 2020 inalterada.