Veículos novos em falta impulsiona venda de usados
Falta de peças e demora na entrega têm sido empecilhos, segundo vendedores de veículos no Distrito Federal. Consumidores apontam cautela e receio na hora da venda devido instabilidade econômica gerada pela pandemia da covid-19
Comprar carro novo no Distrito Federal tem sido um desafio. Segundo vendedores, há concessionárias que ultrapassam 4 meses para entregar veículo novo ao comprador. Isso tem gerado preocupação nas grandes lojas, que viram seu orçamento despencar, e nos consumidores que preferem optar por veículos novos. Em contrapartida, dados apontam que houve crescimento nas vendas de usados e seminovos.
“Percebemos que o consumidor não abandonou o desejo de comprar, apenas adiou esse desejo enquanto as informações sobre a pandemia ainda eram poucas ou confusas. Na medida em que a situação foi se estabilizando, o consumidor retomou seu desejo de comprar um veículo, até por segurança, pois tinha receio de usar transportes públicos lotados, como o metrô e ônibus, e também veículos de aplicativo”, afirma o presidente da Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), Ilídio dos Santos.
A opção por veículos seminovos e usados também é explicada pela falta de carros zero no mercado. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção caiu 31,6% em 2020.
De acordo com a Fenauto houve queda de quase 3% em janeiro e fevereiro de veículos novos. Porém, relatório divulgado pela entidade, com os dados de comercialização de veículos usados no Brasil, no mês de fevereiro de 2021, mostra uma reação positiva do setor. Em comparação com as vendas realizadas em janeiro de 2021, o setor teve um crescimento de 2,3%, com 1.188.275 veículos comercializados, contra 1.162.057 anteriormente. Também, em comparação com fevereiro de 2020, as vendas chegaram a um resultado positivo de 15,9%.
Números do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), mostram queda de 14,1% nos emplacamentos na comparação entre a primeira quinzena de março com o mesmo período de 2020. Os dados incluem veículos leves e pesados.
Os consumidores do Distrito Federal optaram mais por carros seminovos do que veículos zero quilômetro em 2020, ano marcado pelo início da pandemia do novo coronavírus. Levantamento da Associação das Empresas Revendedoras de Veículos do DF (Agenciauto) revelou que a venda de seminovos foi 139,2% superior à de veículos novos.
Marcelo Milhomem é vendedor de veículos em uma multinacional, ele disse ao DFN que “hoje, a demanda por veículos é maior que a oferta. O país inteiro está com problemas de produção, estão sendo lançados no mercado menos veículos novos. Com isso, o consumidor está buscando o usado. Aqui no DF eu tenho cliente que comprou carro comigo no início deste mês de março e a previsão de retirada do veículo é só no início de junho. Agora a previsão de entrega é muito maior, infelizmente. E tem quem queira comprar carro novo. Não temos é o produto para entrega, isso tem gerado queda nas vendas”, avalia.
Paulo Roberto, policial da reserva, confirma o que disse o vendedor. Ele aponta que vendeu uma camionete que tinha e “só vou comprar carro depois de julho, não tem previsão de chegada do veículo. Por enquanto eu vou usar o carro da minha esposa. Mas comprar veículo novo no DF está muito difícil. Como que eu compro um carro e só recebo depois de 4 meses? Impossível isso”, reclama.
Facilidade
Apesar do preço dos carros não estarem muito atrativos, as condições de financiamento estão. Os bancos estão facilitando o crédito, os juros estão mais baixos e é possível financiar até 100% do veículo. Com isso, a concessão de crédito cresceu 13% nos primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. E deve continuar crescendo, segundo dados.
Produção interrompida
O problema relatado pelo vendedor também é confirmado pelas marcas. A Nissan, por exemplo, confirmou que vai interromper a produção em Resende por alguns dias devido ao agravamento da pandemia de covid-19. Os 850 funcionários da unidade entraram em férias coletivas e a retomada está prevista para o dia 6 de abril. Em nota, a montadora diz que busca a segurança de seus funcionários como parte do esforço de reduzir o impacto da pandemia, além de se adaptar ao cenário atual do setor automotivo para garantir a continuidade do negócio.
Além disso, outras fabricantes apontam que faltam componentes nas linhas de montagem, o que as obrigou a anunciarem paradas na produção. GM, Volkswagen, Mercedes e Scania já haviam anunciado as interrupções nas linhas de montagem. A Toyota ainda não definiu se vai interromper as atividades, mas promove reuniões diárias sobre o tema. Os efeitos da pandemia descontrolada já se refletem nas vendas tanto pelas paradas na produção como por lojas fechadas.
A Mercedes-Benz está com produção parada em suas duas fábricas -São Bernardo do Campo (ABC) e Juiz de Fora (MG)- até 5 de abril. Em seguida, a montadora vai conceder férias coletivas a grupos alternados de funcionários do setor de produção, para aumentar o distanciamento. Enquanto isso, a Scania também interrompeu as atividades pelo mesmo período em sua fábrica de caminhões.
A expectativa é que a retomada no segundo semestre seja melhor devido a possibilidade de vacinação em massa. De acordo com representantes do setor, somente assim será possível renovar o ânimo diante de uma recuperação em “V”.