quarta-feira, novembro 26, 2025
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Bed rotting expõe saúde de jovens

Foto: Freepik

Cama se tornou ambiente para prática que prejudica saúde física, mental e social de jovens

O fenômeno conhecido como bed rotting, popularizado nas redes sociais, começa a chamar a atenção de especialistas pela dimensão do impacto que pode causar entre adolescentes e jovens adultos. A prática — permanecer longos períodos deitado na cama, maratonando vídeos, rolando redes sociais e evitando qualquer contato externo — vai muito além de uma tendência viral, segundo o médico e terapeuta João Borzino. Para ele, trata-se de um sintoma de uma geração sobrecarregada pela hiperconexão e pela exigência constante de produtividade, que encontra na imobilidade uma forma de alívio imediato.

Ao analisar o fenômeno pela perspectiva biopsicossocial, Borzino aponta impactos integrados no corpo, na mente e na vida social. A imobilidade prolongada pode comprometer músculos, articulações e o ciclo sono-vigília, além de favorecer alterações metabólicas e hormonais. Em nível psicológico, a prática se aproxima de quadros de depressão, ansiedade e dependência digital, reforçando apatia, lentidão mental e comportamentos de fuga. Já no campo social e cultural, o isolamento físico reduz vínculos, aprofunda a solidão e alimenta o afastamento do mundo real, substituído por experiências mediadas por telas.

O médico chama atenção ainda para os sinais que indicam quando o bed rotting deixa de ser descanso e se transforma em risco: longos períodos na cama durante a vigília, piora persistente do sono, negligência de cuidados pessoais, aumento do isolamento, dores sem causa aparente e pensamentos de desistência. Relatos de jovens e influenciadores mostram que o comportamento pode evoluir rapidamente para ciclos de retração e perda de funcionalidade, sem que a própria pessoa perceba o agravamento.

Diante desse cenário, Borzino defende que o enfrentamento deve ser coletivo. Pais precisam observar mudanças de hábitos e oferecer suporte; escolas devem acionar suas redes de orientação; profissionais de saúde devem considerar “dias inteiros na cama” como possível sintoma clínico; e governantes devem criar políticas que favoreçam convivência, atividades culturais e contato com a natureza. Para o médico, o bed rottingé o retrato de uma geração anestesiada pela simulação digital: “se não desligarmos alguns sistemas sociais e culturais, seremos vencidos pelo que criamos — e a cama pode se tornar o túmulo da nossa vitalidade”, conclui.