terça-feira, abril 23, 2024
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Nada é tão ruim que não possa piorar

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil;

Em nove meses de operação a Neoenergia já registrou mais ações judiciais que a CEB durante todo o ano de 2020

A privatização da CEB Distribuição foi anunciada pelo governo local como a única alternativa para contornar o problema da falta de recursos nos caixas da empresa, que durante anos já sofria com a falta de condições para manter os serviços.

Além disso, a expectativa do governo do Distrito Federal era que com a concessão para a iniciativa privada haveria mais investimentos, e consequentemente, “uma prestação de serviço mais eficaz e de melhor qualidade ao consumidor”.

A esperança foi avalizada pelo diretor-presidente da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, empresa vencedora do leilão, no dia 2 de março deste ano. Data marcou a assinatura do contrato de compra e venda da CEB e o início da operação da nova gestora de distribuição de energia elétrica do DF.

Durante a cerimônia de oficialização do contrato, Tagle prometeu uma evolução nos serviços prestados. “Tenho a plena convicção de que iremos trilhar um caminho de sucesso e na melhoria da distribuição de energia. Trabalharemos para que a CEB assuma um papel de destaque nacional”, disse o gestor, ao prometer a geração de empregos e investimento em tecnologia na companhia. “Chegamos aqui não para subir a tarifa de energia, e sim para fazer investimentos e melhorar a qualidade do serviço”, garantiu à época.

Porém, passado um ano do leilão e nove meses do início das atividades da Neoenergia, todo cenário projetado pelos otimistas tem caído por terra. Pelos quatro cantos da cidade, ouve-se reclamações da nova gestora de distribuição. As reivindicações vão de quedas constantes de energia até solicitações com prazos intermináveis.

Douglas Ribeiro é empresário e trabalha com a instalação de painéis solares. Ele conta que para regularizar a atividade de produção de energia própria, o consumidor precisa abrir um processo informando à distribuidora local se vai continuar utilizando a energia da companhia e de que maneira. Mas que os tramites têm demorado bastante.

“Antes, o tempo de andamento de um processo dentro da distribuidora de energia era satisfatório, visto que os prazos eram cumpridos e as exigências eram coerentes e feitas de uma vez só. Agora, é uma verdadeira saga aprovar um projeto. Os apontamentos são feitos em partes, o que causa desgaste tanto para mim quanto para meu cliente que quer ver seu sistema funcionando. Tenho um cliente que está com processo emperrado na companhia há mais de dois meses”, afirma o empresário.

Atendente da Neoenergia, que preferiu não se identificar, conta que realmente existe uma dificuldade da empresa em atender esse tipo de serviço. “A empresa está tentando se adequar a esse novo tipo de sistema de produção de energia. Todo mês atendo dezenas de consumidores que fizeram a migração para energia solar, mas enfrentam grandes problemas com a parte das responsabilidades da companhia”, disse.

Outro setor que tem enfrentado problemas é o imobiliário. O administrador de empresas, Antônio Silva, relatou sua experiência ao precisar dos serviços da Neoenergia. “Aluguei um imóvel no início do mês de novembro. Fiz a solicitação de transferência de titularidade e consequentemente a ligação da energia. Imaginei que conseguiria fazer minha mudança em três dias, por já ter solicitado esse tipo de serviço antes. Mas minha surpresa foi que agora existe um prazo de cinco dias úteis para análise de cadastro e mais outros três dias úteis para a ligação da energia. Fui muito prejudicado porque o mês de novembro teve três feriados e pontos facultativos bem no início da semana. Resumindo, o que era para ser uma mudança em três dias, levou mais de três semanas”, reclama o consumidor.

Justiça

As reclamações não ficam só nos meios de comunicação e redes sociais. O DF Notícias fez um levantamento junto ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e constatou que em nove meses a Neoenergia já ultrapassou largamente a quantidade de processos movidos por consumidores, quando comparada a CEB durante todo o ano de 2020.

De acordo com informações do TJDFT, durante todo o ano passado 264 pessoas físicas moveram ações contra a CEB Distribuidora. Já contra a Neoenergia, até o mês de novembro deste ano, foram registrados 1.815 processos. A situação é semelhante para pessoas jurídicas. Em 2020, o Tribunal recebeu apenas 49 reclamações de consumidores, porém, contra a Neoenergia foram 454 ações judiciais até novembro.

A empresa Neoenergia vem sendo questionada sobre os relatos dos consumidores desde o início do mês passado, porém até o momento do fechamento da edição não houve retorno.

CPI

As reclamações contra a Neonergia chegaram ao plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). No último dia 1º de dezembro, o deputado Professor Reginaldo Veras (PDT) sugeriu aos colegas a abertura de uma CPI para investigar a empresa.

Durante a sessão, o parlamentar disse que, além do processo de privatização da companhia, é necessário fiscalizar os serviços prestados “que estão abaixo dos parâmetros estabelecidos pela Aneel”.

Arlete Sampaio (PT) também se manifestou quanto ao “equívoco da privatização” e ressaltou que o número de queixas registradas na Aneel relativamente à Neoenergia é o dobro das que eram dirigidas à antiga CEB.

Como resposta aos colegas, o presidente da CLDF, Rafael Prudente (MDB), informou que, em reunião com representantes da empresa, ficou decida a instalação de um canal de atendimento na Câmara Legislativa para facilitar o encaminhamento das solicitações dos cidadãos e dos parlamentares. “A partir da próxima segunda-feira (6), uma espécie de posto avançado da Neoenergia receberá reclamações e permitirá que a CLDF acompanhe mais de perto a solução dos problemas”, explicou Prudente.