Touring: decadência dá espaço à inovação
Foto: DFN
Prédio já foi referência de entidade que tinha como objetivo fomentar o turismo nacional. Mas com a falência da organização, degradação tomou conta do prédio. Contudo, projeto inovador transformará instalações em um laboratório de arte, ciência e tecnologia
O Touring Club do Brasil foi criado por Pedro Benjamin Cerqueira Lima que era um grande entusiasta do que chamavam de “automoturismo”. Com ele, outros homens se engajaram na criação da entidade que tinha como objetivo fomentar o turismo, principalmente com automóveis.
A entidade chegou a ter filiais em todos os estados da federação, 200 delegacias em diferentes cidades, 50 postos de gasolina, serviços de despachante, autoescola, seguro, consórcio de automóveis, socorro médico e mecânico além de outros serviços.
Aqui no Distrito Federal, por conta do prestígio cultural que o Touring Club do Brasil tinha, o governo deu à entidade, em 1963, um terreno na área central de Brasília. O prédio foi construído com projeto de Oscar Niemeyer e está situado em frente ao Setor Cultural Sul com a mesma importância geográfica do Teatro Nacional, que está em frente ao Setor Cultural Norte.
Com a decadência do Touring Club em todo o país, em 2005 o prédio do DF foi vendido em leilão pela União Federal para uma empresa. De lá para cá o imóvel foi se deteriorando, invadido, revitalizado, utilizado como rodoviária e agora passa por intensa transformação: será um grande centro de arte, ciência e tecnologia – o Sesi Lab.
O imóvel foi adquirido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) que, no ano passado, assinou parceria com o Governo do Distrito Federal para revitalizar todo espaço externo do prédio por meio do programa Adote uma Praça.
O projeto Sesi Lab é arrojado e tem como missão promover a conexão entre processos artísticos, científicos e tecnológicos, em colaboração com a indústria e a sociedade, por meio de uma abordagem educacional interdisciplinar e criativa que inspire as pessoas a agirem hoje para criarem novas possibilidades de futuro.
“O maior objetivo do Sesi Lab será despertar o interesse das pessoas por ciência e tecnologia a partir de experiências, vivências. É uma iniciativa pioneira no país”, afirma o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.
A proposta é apresentar uma programação presencial e on-line com base em um tema anual, que será desdobrado em exposições, seminários, oficinas, publicações e atividades culturais e educativas. Todas as programações serão projetadas com base no pensamento pedagógico-educacional, ou seja, a educação estará presente em todas as atividades desenvolvidas. De acordo com o Sesi, estão previstas exposições, eventos culturais, visitas escolares, programas de formação, oficinas e festivais.
Dentre as instalações estão as galerias de longa duração e as galerias temporárias. A exposição de longa duração será composta por três galerias, apresentando conteúdos a partir de diferentes recortes. É uma das principais ferramentas de aprendizagem do projeto e a grande plataforma de comunicação com os públicos: Fenômenos no Mundo; Aprender Fazendo; Imaginando Futuros.
Já as galerias temporárias serão inspiradoras para novos diálogos, conexões e conhecimentos bordando temas contemporâneos e relevantes para construir a sociedade do futuro. A ideia é conectar arte, ciência e tecnologia, utilizando múltiplas linguagens e estimulando a experimentação.
Para incrementar o projeto, o Sesi Lab tem parceria com o Exploratorium, museu de ciência, tecnologia e artes localizado em São Francisco, nos Estados Unidos. Ele é referência mundial pela natureza participativa de suas exposições e protótipo de museus participativos em todo o mundo.
Investimentos
O orçamento para a implantação do projeto é na ordem de R$ 160 milhões. Além das galerias e áreas para oficinas, o museu contará com loja conceito, jardim e café. Mas as benfeitorias não serão restritas ao ambiente interno das instalações. Um anfiteatro externo para atividades culturais ao ar livre também será construído.
O túnel do Touring também será reformado e integrado ao Sesi Lab. Ele será um acesso seguro do público pelo pavimento térreo, onde está sendo estudada a possibilidade de se adotar um mobiliário flexível para programação cultural.
De acordo com o projeto, o espaço de passagem pública também será reformado e passará a ser utilizado como área para a realização de atividades culturais. De acordo com a Confederação da Indústria, a adoção dos dois espaços públicos quer conectar o SESI Lab com seus arredores, com o objetivo de requalificar a área, torna-la mais segura e agradável à circulação de pedestres, além de compor o corredor cultural composto pela Biblioteca Nacional, Museu Nacional e a Catedral de Brasília.
Para o diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, o Sesi Lab: “É um projeto que potencializa esse espaço que estava degradado. Além da revitalização, teremos uma integração dos espaços culturais no centro de Brasília, queremos criar o conceito de Esplanada Cultural, interligando vários monumentos icônicos com a valorização da ciência e cultura”, afirma
Preservação
A obra está em fase de restauração do prédio do antigo Turing. Imóvel é tombado e por isso, para ser transformado no novo museu, precisou de autorização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que por meio do parecer técnico n° 51/2021 aprovou o projeto de intervenções de reparo no espaço.
Além disso, o projeto segue o entendimento da Portaria nº 166/2016 do instituto, que prevê a destinação dos setores culturais Norte e Sul do Plano Piloto para o uso de equipamentos públicos de caráter cultural.