quinta-feira, abril 25, 2024
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Violência nas escolas, por quê?

Ilustração: Freepik

O combate à violência é indispensável, porém é preciso também entender as origens desses atos de agressividade. Especialista aponta que ações devem envolver família, professores e Estado

A violência nas escolas do Distrito Federal tem tomado espaço na mídia, nas rodas de conversa e nas famílias. Muito se fala na violência em si, nos atos praticados pelos indivíduos, mas pouco se fala nas causas e no que pode ser feito para reverter o quadro.

São novos tempos, já que por conta da pandemia de Covid-19 estudantes ficaram afastados das atividades educacionais por mais de um ano. Segundo especialistas, período causou grandes impactos em vários âmbitos, principalmente educacional e emocional.

Nesta semana, o DF Notícias entrevistou a psicóloga, Rita Rocha (CRP 01/19406) que falou a respeito das possíveis causas dessa explosão de violência em adolescentes e jovens no Distrito Federal.

Questionada quanto os motivos que podem estar levando os jovens a praticar atos de violência a especialista aponta alguns aspectos.

“O aumento da violência, nós psicólogos, atribuímos ao não reconhecimento e o não controle das emoções como raiva, frustração e impulsividade. Estamos saindo de uma pandemia onde os alunos estão retomando suas ‘vidas normais’ com as aulas presenciais. Não podemos ignorar que esses alunos ficaram muito tempo, principalmente os de escolas públicas, afastados desse contexto escolar, de todas as atividades escolares, do convívio com professores e colegas, além disso ficaram bastante imersos na vida tecnológica. Tudo que eles fizeram durante a pandemia foi por meio da tecnologia – celulares, computadores -, ou por atividades que tinham que ser buscadas na escola. De qualquer forma, a diminuição do convívio social tem afetado essas crianças e esses jovens”, explica Rita.

Outro ponto levantado pela profissional é a convivência familiar. Para a psicóloga “outra coisa que não podemos descartar é a questão do contexto de violência doméstica, violência na dinâmica da família. Sabemos que muitos casais se separaram e muitas outras questões aconteceram nesse período em que famílias tiveram que funcionar somente naquele ambiente familiar. Então tudo isso pode ser causa de ações de violência. Não podemos exatamente apontar um só motivo, mas são situações que podem desencadear comportamentos violentos. Além disso, percebemos que falta orientação, diálogo e oportunidade para que esses jovens sejam ouvidos e se coloquem no contexto em que estão inseridos”.

A Covid-19 também pode ser umas das responsáveis pelo alto nível de agressividade entre os estudantes. “Ainda não podemos deixar de fora, o que pode ser uma das causas, as sequelas da Covid-19. A doença trouxe algumas consequências neurológicas de ordem emocional, como mudanças de percepção, mudanças de comportamento, ansiedade.

Comunidade escolar

No campo educacional, Rita Rocha relembra a preocupação da comunidade em receber os alunos. “Lembro-me de quando houve as primeiras falas de retomar as atividades presenciais, as escolas afirmaram que estariam mais preocupadas em acolher esses jovens e fazer atividades mais voltadas para as questões emocionais e verificar como esses jovens estavam emocionalmente”.

E segue: “O acolhimento e a comunicação são indispensáveis. Existe até uma técnica que nós falamos que é a comunicação não violenta. Além disso, os professores precisam estar capacitados para lidar com essa nova situação que não é fácil. Da mesma maneira os pais. Esses jovens precisam ser acolhidos, precisam ver em que contexto eles estão inseridos e que eles podem mudar esse contexto, podem agir de forma diferente. Isso pode ser feito dentro das escolas e dentro das famílias, nos lares. O amor, o diálogo, a escuta sem julgamento, entender o que está acontecendo são imprescindíveis. Não podemos, de maneira nenhuma, deixar de ressaltar a importância dos trabalhos voltados para a psicologia como o atendimento psicológico e rodas de conversas”.

A terapeuta lembra que “a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê o trabalho socioemocional nas escolas, para que crianças e jovens possam saber lidar com as questões de cunho emocional. Eu acredito sim que esses jovens devem passar por uma avaliação médica e psicológica. E que precisam uma atenção maior no sentido de entender a importância que eles têm para a sociedade e para o futuro da nossa sociedade também”.

“Acredito ainda que essas ações não podem ser isoladas. Elas precisam do apoio do Estado, sejam municípios, estados e o Distrito Federal, disponibilizando profissionais como psicólogos e assistentes sociais nas escolas”.

Nova Lei

No dia 24 de fevereiro deste ano, entrou em vigor a Lei nº 6.992/2021, que garante atendimento, por profissionais de psicologia escolar e serviço social, a alunos e profissionais da educação das escolas públicas e privadas do DF com mais de 200 alunos ou em unidades de natureza especial e escolas do campo.

Projeto, de iniciativa do Legislativo, tem como objetivo combater a evasão escolar e acompanhar sem prejuízo de outras ações, os alunos que demonstrem dificuldades nos processos de escolarização, incluindo aquelas relacionadas a diferentes violações de direito ou transtornos mentais.

De acordo com o texto aprovado pelos deputados distritais os profissionais deverão pertencer aos quadros de servidores da Secretaria de Educação do DF e, juntamente com os professores e demais servidores da escola, irão contribuir para a efetivação do direito à educação, de forma preventiva e interventiva.

De acordo com a Lei, haverá avaliação anual da política pública com base em indicadores sobre evasão escolar, notificação de tentativas de suicídio e índices de afastamentos de profissionais de educação por motivos de transtornos mentais, com apoio de institutos de pesquisa públicos e relatórios produzidos pelas unidades escolares.

A inclusão dos profissionais de psicologia e serviço social não substitui serviços previamente existentes no âmbito das unidades escolares ou os atendimentos ofertados pela Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho.

Para a especialista, Rita Rocha, “o projeto de psicólogos nas escolas se tronou imprescindível para o momento que vivemos para que possamos combater toda essa violência que está acontecendo em nossas escolas com os nossos jovens que serão o futuro da nossa capital”, finaliza.