terça-feira, abril 23, 2024
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Cresce busca por atendimento psicossocial

Foto: prostooleh – freepik

Profissionais de saúde mental estimam que os impactos causados pela pandemia de covid-19 sejam percebidos a médio e longo prazo, contudo atendimentos da rede pública já cresceram

O Distrito Federal possui uma Rede de Atenção Psicossocial articulada para atender as demandas de saúde mental de toda a população. E em um cenário onde os registros de transtornos de saúde mental cresceram consideravelmente por conta da pandemia de covid-19, a Secretaria de Saúde promoveu na semana passada a 3ª Conferência Distrital de Saúde Mental. O evento teve como tema: “A política de saúde mental como direito: pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS”.

O objetivo do encontro foi dar voz aos usuários, gestores e aos trabalhadores dos serviços de saúde mental. E, com os resultados dos debates, redirecionar políticas públicas para a área e otimizar o atendimento aos cidadãos.

“No atual cenário, se faz ainda mais necessária essa discussão, pois já se espera as consequências para a saúde mental da população a médio e longo prazos, principalmente para as crianças, com aumento da procura nos serviços”, explica Vanessa Soublin, diretora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde.

Segundo Vanessa, os serviços de saúde mental foram essenciais durante a pandemia, funcionaram o tempo todo, com algumas adaptações quando os grupos não podiam acontecer em razão das orientações sanitárias. “Bem no início até houve uma queda na procura. Mas, depois disso, percebemos um grande e constante aumento na procura, que se mantém até hoje”, informou a diretora.

A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, ressaltou a importância do debate e de uma construção coletiva de deliberações, com a opinião de todos que compõem a Rede de Atenção Psicossocial. “Estamos finalizando as tratativas para contratação de mais dez médicos psiquiatras para atuarem nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps)”, anunciou.

Lucilene explicou que pretende avaliar internamente médicos de família que possuem especialização, para atuarem em áreas específicas onde há maior demanda.

A gestora pontuou que os usuários dos serviços de saúde mental precisam de humanização em seu atendimento, além de cuidados junto a uma equipe multidisciplinar, que permita o acesso às terapias, grupos de ressocialização, terapia ocupacional, assistência social e psicológica. “Não é só indicar medicamentos para esses usuários, é tratá-los de maneira efetiva, com humanização no cuidado”, salientou.

Atendimentos

Para situações de crises agudas, a rede de saúde oferece atendimento nas portas de urgência e emergência hospitalares, bem como os leitos de saúde mental que dão retaguarda clínica aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Hoje, há leitos de saúde mental no Hospital de Base e no Hospital São Vicente de Paulo.

A Secretaria de Saúde conta com 18 CAPS, distribuídos pelas sete Regiões de Saúde do Distrito Federal. Os centros são serviços especializados de saúde mental inseridos na comunidade e que funcionam de porta aberta, ou seja, não é necessário encaminhamento para ser acolhido neste serviço.

De acordo com a pasta, em todo o ano de 2021 foram realizados 126.200 procedimentos nos CAPS. Já em 2022, de janeiro até abril, foram feitos 57.728 procedimentos.

De acordo com a diretora Vanessa Soublin, este aumento ocorre em um cenário de mudança de perfil de busca por ajuda. “Os Caps (centros de atenção psicossocial) atendiam muitos casos, por exemplo, de pessoas psicóticas. Hoje há aumento significativo de procura para casos de depressão, ansiedade e tentativas de autoextermínio”, afirma.

Parte desse aumento pode ser justificado pela pandemia de covid-19. “As repercussões na saúde mental são de médio e longo prazo”, explica Vanessa. Entre as consequências deixadas pela doença estão as milhares de famílias enlutadas e a crise socioeconômica.

A Diretoria de Serviços de Saúde Mental ressalta que as unidades básicas de saúde (UBSs) são a porta de entrada para atendimento da secretaria. A Atenção Primária à Saúde recebe, avalia e acompanha os casos. Em caso de necessidade, encaminha os pacientes para outros pontos de atenção na rede.

Casos de leve impacto no funcionamento geral, social ou ocupacional são acompanhados na atenção primária, sem necessidade de buscar uma unidade específica de saúde mental. “O Caps mantém a porta aberta, mas, para ser elegível ao acompanhamento, o paciente precisa ter um transtorno grave e persistente, dado que as unidades se dedicam a pacientes que necessitam de cuidado intensivo”, diz Vanessa.

O acompanhamento precoce próximo, inclusive, pode evitar que uma situação mais simples evolua a ponto de necessitar de uma intervenção de maior complexidade. “Muitos dos casos não são perfil de Caps, mas a gente faz o acolhimento e faz um seguimento”, cita a gerente do Caps de Samambaia, Valeska de Paula. Ainda segundo ela, “a demanda espontânea costuma ser de quadros de insônia, ansiedade e de início de depressão”.

Urgência e emergência

Casos em que há risco iminente de vida devem ser encaminhados para a rede de urgência e emergência. Surtos psicóticos, agitação psicomotora, agressividade e comportamentos de risco podem ser atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do DF, o primeiro do Brasil a contar com um Núcleo de Saúde Mental (Nusam), criado há cinco anos.

O Nusam atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica, pelo número 192. A situação do paciente pode ser resolvida ainda durante a ligação, a depender do caso. Mas, em ocorrências mais graves e urgentes, é necessário que os profissionais intervenham pessoalmente, indo até o local onde está o paciente.

O teleatendimento é formado por psicólogos e assistentes sociais, disponíveis 24 horas. Após as ligações da população serem atendidas pelos médicos reguladores, são avaliadas e classificadas como demanda em saúde mental, sendo redirecionadas aos profissionais que atuam na baia reservada ao Nusam. O atendimento à população é para casos de crises de ansiedade, surtos psicóticos, comportamento suicida, casos de violência ou negligência à população vulnerável, luto, depressão, entre outros.

Com informações da Agência Saúde