Projeto oferece apoio para famílias de doadores de órgãos
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Com intuito de acompanhar os enlutados, projeto da Central de Transplantes do DF oferece apoio psicológico para quem autorizou procedimento
É indiscutível a importância da doação de órgãos para que vidas sejam salvas. Porém, o número de famílias que autorizam a doação ainda é pequeno no Brasil. Uma das razões para que o número ainda seja baixo é a falta de conhecimento sobre o que é morte encefálica – quando o cérebro para de funcionar e a pessoa para de respirar, e só continua respirando por meio artificial. Essa condição é irreversível e é quando familiares precisam autorizar a doação dos órgãos, caso contrário, órgãos saudáveis e que poderiam garantir a vida de outra pessoas são desperdiçados tempos depois.
De acordo com a legislação vigente, para ser doador de órgãos no Brasil é preciso que a família seja favorável à atitude, e não apenas ter registrado em documento que é doador, visto que quem possui a decisão final e detém a responsabilidade é a família do doador.
Segundo o Ministério da Saúde, a doação só pode ser realizada depois que a família do doador autoriza o procedimento. São considerados familiares aptos: o cônjuge, o companheiro ou o parente consanguíneo de maior idade e juridicamente capaz, na linha reta ou colateral até o segundo grau, a exemplo do pai, da mãe, dos irmãos e dos avós maternos ou paternos. A autorização é feita por escrito e segue assinado por duas testemunhas.
Aqui no Distrito Federal, após a decisão de autorizar a doação de órgãos, famílias enlutadas recebem apoio da Central Estadual de Transplantes do Distrito Federal (CET-DF) que oferece suporte por meio do projeto Follow-up. Iniciativa tem como objetivo prestar apoio e acompanhamento psicológico às famílias que autorizaram a doação de órgãos de um familiar falecido. Por meio desse atendimento, as equipes da Secretaria de Saúde ajudam os familiares a lidar com o processo do luto pelo qual passam.
De acordo com a Secretaria de Saúde, o Follow-up existe desde abril e já ofereceu suporte a 26 familiares que autorizaram a doação de órgãos e tecidos de seus entes.
Atendimentos
Para chegar até o familiar, a CET busca dados e informações de quem autorizou a doação de órgãos, depois entra em contato por meio de ligação ou mensagem de texto. A Secretaria de Saúde explica que nesse contato a equipe responsável pela abordagem busca informações de como essa pessoa está passando pelo processo de luto e sinaliza a existência do suporte psicológico fazendo o convite para participar de três atendimentos telefônicos.
A intenção do Follow-up é prevenir ou minimizar os agravos psíquicos relacionados à perda do doador que, na maioria dos casos, acontece inesperadamente, de maneira súbita e estressantes aos familiares, como acidentes (traumatismos cranioencefálicos ou afogamentos), violência urbana e doenças cerebrovasculares (AVCs). A equipe de trabalho é composta por psicóloga e residentes de psicologia, que observam se há fatores de risco e de proteção ao luto complicado orientando o familiar sobre quais estratégias de enfrentamento podem ser empregadas para lidar com esse processo.
A psicóloga da Central Estadual de Transplantes do DF, Esther Almeida, explica como os familiares são abordados. “Inicialmente, ligamos para os familiares autorizadores explicando o trabalho e convidando-os para o atendimento. Quando não conseguimos contato por telefone, enviamos uma mensagem por Whatsapp, apresentando a proposta de trabalho. Em caso de interesse pelo atendimento, solicitamos que sinalize o melhor dia e turno para contato”, informa.
A psicóloga conta, ainda, que alguns pacientes não aceitam a ajuda no primeiro momento. “Há familiares que dispensam o atendimento, mas posteriormente nos contatam solicitando o suporte. Já outros dispensam para si, mas solicitam o suporte a algum outro membro da família que possa estar apresentando mais dificuldades em lidar com o luto”, observa.
Além disso, a especialista esclarece que a assistência prestada por meio do Follow-up é de caráter breve e focal e que o serviço busca acolher a família do doador para que o processo de luto seja enfrentado de uma maneira menos angustiante. Quando se observa que o familiar necessita de um atendimento mais aprofundado, a psicóloga orienta que ele prossiga com os atendimentos em serviços que realizem acompanhamentos de médio a longo prazo. Há familiares que desconhecem ou apresentam dúvidas quanto aos locais e aos serviços em que podem dar continuidade aos atendimentos. Dessa maneira, o Follow-up ajuda com orientações de encaminhamento.
“Quando o familiar apresenta histórico de adoecimento psíquico prévio agravado pelo luto, orientamos a busca de atendimento na Rede de Atenção Psicossocial da Secretaria de Saúde. No caso dos familiares que dispõem de rede de saúde suplementar (convênios de saúde ou serviços particulares), a recomendação é de que busquem esses serviços para continuidade dos atendimentos”, orienta Ester Almeida.