Taguatinga sob os efeitos do tráfico
Foto: DFN
Cidade com características de metrópole vive tempos de reclusão e tensão por conta doalto índice de violência
Criada em 5 de junho de 1958, dois anos antes da inauguração da capital federal, Taguatinga surgia para abrigar pessoas que chegavam para a construção de Brasília e que se aglomeravam na região do Núcleo Bandeirante.
Em seis meses, Taguatinga já estava em pleno funcionamento, com escolas, hospitais, casas e comércio para atender a população local. Começava assim a primeira cidade-satélite de Brasília.
Com o passar dos anos, a região se consolidou e se transformou em um grande centro metropolitano onde pessoas de outras áreas vinham para fazer compras, resolver questões burocráticas em cartórios, bancos e também buscar momentos de diversão e lazer. O centro de Taguatinga era um dos corações comerciais do Distrito Federal.
Mais de seis décadas se passaram e o que era vitalidade tem se transformado em marasmo e abandono. O centro de Taguatinga que chamava atenção da população, hoje afasta, por falta de cuidados e dominação de grupos criminosos que atacam pedestres, aprisionam moradores e espantam comerciantes.
Moradores relatam uma série de episódios de violência, em plena a luz do dia, no centro da cidade. No início desta semana, traficante se desentendeu com usuário de droga e resultou em facada e tiro em frente a uma escola com centenas de alunos. Moradora assustada relata o que ouviu.
“Era umas 11h da manhã quando comecei a ouvir o barulho da confusão. Ouvi gritos e logo em seguida estampido de tiro. Moro em Taguatinga há 30 anos e jamais presenciei um absurdo desses. De uns três anos para cá, isso aqui virou um faroeste. É tiro a qualquer hora do dia, idosos esfaqueados, corre-corre o dia inteiro. Sem contar a degradação que temos no espaço público, porque os moradores de rua fazem suas necessidades fisiológicas nas portas dos comércios e das casas aqui da região. O que não entendo é como isso acontece próximo à delegacia de polícia e à administração regional”, questiona moradora que preferiu não se identificar.
Antônio Silva trabalhada no centro de Taguatinga e também conta que foi testemunha de ato de violência na região. “Estava aguardando para atravessar o semáforo em frente a loja de calçados que fica ao lado do Banco do Brasil, quando um motorista saiu da avenida principal para pegar a Comercial e quase atropelou um homem em situação de rua que atravessou a pista com sinal fechado para pedestres. O homem não gostou e começou a xingar o motorista que nessa altura estava procurando uma vaga para estacionar. De repente o morador de rua tira um facão da cintura e vai em direção ao motorista, que quando percebeu que seria agredido arrancou o carro e saiu. Trabalhar aqui no centro já foi tranquilo, mas agora vivemos sob pressão”, relata o administrador de empresa.
Enxugando gelo
Moradores da região reclamam que a segurança pública até tem atendido as ocorrências, mas pouco tempo depois os mesmos causadores de transtorno e criminosos estão na rua novamente.
Para Amanda Coelho, moradora da região, a situação da segurança é preocupante. “Na tentativa de encontrar uma solução para a questão da violência e tráfico de drogas que acontece no centro de Taguatinga já acionamos diversas frentes, mas o que acontece é um jogo de empurra onde não encontramos apoio e a situação acaba ficando como está. Sempre que temos oportunidade questionamos as forças de segurança, e a resposta é sempre a mesma ‘prendemos, mas na audiência de custódia os criminosos são soltos’ ou ‘não podemos prender porque não foi flagrante’. Para nós moradores, a polícia está enxugando gelo, porque não há punição para quem comete crimes. Por mais que eles atuem nas ocorrências, o bandido acaba voltando para o mesmo lugar”, aponta a moradora.
Fontes ligadas a agentes da segurança pública contam que policiais militares que atuam nas ruas estão acuados em relação as abordagens, por terem colegas respondendo a processos administrativos em razão de atuação mais resistente em operações.
Em nota, a Polícia Militar afirma que “mantém policiamento na região para evitar a prática de crimes. Além disso, executa operações rotineiras para coibir a criminalidade”.