sexta-feira, abril 26, 2024
Desta semanaEducação

Docência transformada

Foto: Reprodução internet

Adaptação às novas ferramentas de ensino, excesso de trabalho, aumento de estresse e outros sintomas relacionados à saúde mental são relatos de professores durante a pandemia

A pandemia de covid-19 modificou a forma de trabalho de muita gente. E uma das principais profissões impactadas foi a dos profissionais da educação. As dificuldades são apontadas por educadores do ensino infantil ao universitário.
A suspensão das aulas presenciais impactou severamente a categoria, principalmente aqueles menos adeptos à tecnologia e que precisaram se reinventar em curto espaço de tempo para atender alunos, pais, escola e comunidade por meio de plataformas digitais. O DF Notícias já havia noticiado o impacto dessa nova realidade no desenvolvimento das crianças, dessa vez o foco é nos professores.
Paula Cinthia, professora da rede particular de ensino, conta que na prática os educadores precisaram transformar suas casas e o ambiente virtual em cenários para aprendizagem. “O maior desafio foi aprender a trabalhar com ferramentas on-line (digitais) para poder passar o conteúdo de forma lúdica para que as aulas não ficassem cansativas e que tivessem um bom resultado no aprendizado. Até mesmo porque aprendemos a vida toda o tradicional e agora tivemos que inovar com o ensino híbrido”.
A profissional também mencionou sobre a sobrecarga de trabalho. “O trabalho é dobrado, estamos trabalhando muito mais. A metodologia para quem está em casa é diferente de quem estava em sala, mesmo sendo o mesmo conteúdo”.
Ligia Sales é coordenadora escolar e disse que “para todos nós, comunidade escolar e família, foi um baque enorme. Isso porque tudo aconteceu de forma repentina. As crianças foram as que mais ficaram perdidas. Trabalho em uma escola de ensino infantil e, por serem pequenas, não entendiam porque precisavam ficar na frente de um computador. Muitos professores nos relataram que os alunos não conseguiam se concentrar e isso é muito difícil. Outras crianças precisamos ensinar a mexer nas ferramentas, foi angustiante demais. Percebemos mais estresse, mais nervosismo, muitos relatos de queda de internet. Mas estamos superando, afinal já são quase um ano e meio nessa situação”, conta.

Tecnoestresse

Maria Alencar* dá aulas na rede pública do Distrito Federal e no Entorno, ela conta que precisou se afastar de suas funções no início deste ano devido a situação de depressão e estafa que vinha passando.
“Eu, de repente, vi minha vida totalmente mudada, com meu WhatsApp sendo público, sem minha permissão, recebendo ligações e mensagens de pais e alunos em qualquer horário. Foi uma demanda absurda para organizar material. Eu me sentia como se não existisse mais horário determinado. Aquilo foi me consumindo, eu fiquei muito mal. O trabalho triplicou. As pessoas acham que é brincadeira ou que é fácil ser professor nesta situação. Precisei me afastar e somente agora eu retomei minhas atividades. Mas sigo com acompanhamento psicológico. E além de mim, existem outras dezenas de pessoas na mesma situação. Uma dica que tomei para vida foi trocar de número de celular, deixei o antigo só para atender meus alunos, pais e escola. Quando termino meu horário de trabalho eu desligo o celular e tento levar uma vida normal, pelo menos até que tudo volte ao normal”, disse.
O estresse vivido por Maria e inúmeros docentes pode ser chamado de tecnoestresse. De acordo com especialistas ele é uma resposta ao imediatismo para adquirir habilidades e desenvolver uma nova linguagem.
Outros pontos comentados pelos professores e professoras foram o excesso de atividades, a falta de reconhecimento, a necessidade de aprender rápido novas metodologias e a insegurança sobre o futuro, que vem causando muitos impactos na saúde mental da categoria.

Apoio

Para o GDF, “o impacto do isolamento social provocou mudanças nas práticas pedagógicas e teve consequências para a saúde mental. Em resposta a isso, a coordenação regional de ensino do Gama (CRE Gama) adaptou um projeto que existia desde 2018 em parceria com a Secretaria de Saúde (SES) e trouxe as Rodas de Terapia Comunitária Virtual, que já beneficiaram 42 escolas e cerca de 2,1 mil professores”.
“Criamos o Espaço Olhar, que inicialmente acolhia estudantes e professores e oferecia acupuntura, Reiki e quiropraxia. Nos ajustamos à pandemia, os encontros passaram a ser virtuais e promovemos conversas coletivas sobre os dilemas vivenciados e as alegrias do cotidiano. Além de exercícios de respiração, de relaxamento e automassagem”, explica a assessora pedagógica da CRE Gama, Francisca Beleza.
A Secretaria de Educação aponta que “está fazendo todo o possível para minimizar o impacto psicológico de professores e servidores devido à mudança de rotina imposta pela pandemia. A pasta está dando todas as orientações e suportes para que os professores consigam atravessar esse momento que atinge a todos.
Em parceria com a Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SUBSAUDE/SEEC), a Secretaria de Educação também oferece atendimento psicológico durante o período de pandemia do coronavirus, de forma virtual a todos os professores, realizada por meio do e-mail plantao.saudemental@economia.df.gov.br.
*nome fictício, alterado a pedido da entrevistada que prefere não se identificar devido seu quadro clínico.